Aluno indígena Potiguara é aprovado na Unb, Brasília para cursar medicina aos 17 anos

A Educação da Baia da Traição se sente orgulhosa em compartilhar o relato da vida acadêmica de um jovem Potiguara que hoje se encontra em uma das mais renomadas universidades do país.

 

Filipe Galdino Navarro Ribeiro, nome indígena Maranirũ Potiguara, 17 anos, morador na Aldeia Alto do Tambá, Baía da Traição. “Sou 100% aluno de escola pública com orgulho!”

 

Relata Filipe Galdino

 

“O sonho pela medicina veio quando eu percebi o quanto meu povo precisava de um médico. Sempre me senti constrangido e incomodado ao ver algum parente precisar de uma simples informação e eu não poder ajudar porque não tenho o conhecimento necessário. Então, isso me motivou a buscar a medicina por esse propósito: ajudar.

 

Minha trajetória até chegar aqui não foi repleta de flores.

 

Quando eu estava no 3º ano do ensino médio, veio a pandemia e a necessidade de me preparar para o enem. Sem muitos acessórios, comecei com o que tinha. Foi aí que eu conheci o Desafio Nota Mil, um projeto incrível que me motivou a desenvolver minha escrita. Desde então, segui participando do projeto e estudando em casa. No meu primeiro Enem, que foi o de 2020, alcancei os 960 pontos na redação e eu atribuo muito isso a esse projeto. Infelizmente minha média geral não era suficiente para a medicina, mas ainda consegui alguns outros cursos como enfermagem e direito. Fiquei feliz, mas reconheci que não era o que eu queria ainda e segui.

 

No dia-a-dia em casa, morando com dois sobrinhos e minha mãe, percebi a necessidade de ajudar financeiramente minha mãe. Foi aí que veio a ideia dos bolos. Com algumas semanas de prática e aprendizado, fui aperfeiçoando até que recebi algumas encomendas e daí em diante continuei fazendo e estudando. Não é algo fácil, porque demanda tempo e cansa demais. Mas, eu sempre procurei estabelecer um equilíbrio entre cuidar do presente e cuidar do meu futuro. Neste ano, em 2022, fui aprovado em odontologia na UEPB, mas decidi recusar e seguir estudando. O difícil dessa decisão foi a pressão externa e interna também. Mas eu sabia onde queria chegar.

 

Tentei o vestibular indígena da Unicamp e fiquei na 4º posição das 2 vagas. Tentei também alguns outros processos seletivos como o da Unipampa e UFRB, mas infelizmente não consegui.

 

Até que chegou o vestibular indígena da UnB e eu me inscrevi. Foram apenas 2 vagas e a prova é composta por 100 itens que abordam os conhecimentos cobrados no ensino médio e uma dissertação, com um tempo de prova de 5h. Foram muitos desafios para chegar ao local de prova, que era em outro estado, mas graças a Deus conseguimos.

 

Como era mais uma chance, tentei e aguardei, ainda me preparando para o próximo vestibular, que era o Enem 2022.

 

Ontem me surpreendi com a notícia e fiquei extremamente feliz e realizado, porque essa caminhada é muito difícil, cheia de incertezas, pressões, comparação, etc, mas eu perseverei e chegou a minha hora.

 

O que eu espero para o futuro é me tornar um excelente profissional para que eu possa ajudar meu povo Potiguara e mostrar em todos os espaços que eu ocupar, que os indígenas da Paraíba existem e resistem até os dias atuais.”

 

A Baía da Traição sente orgulho desse jovem Potiguara que, com certeza, terá sempre esse olhar especial para o seu povo, pois desde pequeno foi um amigo da escola, onde a sua mãe é diretora municipal, na Aldeia Tracoeira, sempre ajudando com maestria, sou fã número um de Filipe, comentou a secretária de educação Fátima Lima.

 

www.valenoticiapb.com.br – Por assessoria da Secretaria de Educação de Baía da Traição (PB)

 

 



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